Nosso cotidiano é tecido por ações que envolvem diversas áreas da vida: nos dedicamos ao trabalho, aos filhos, às demais relações, à casa, ao mundo, enfim... Podemos fazer tudo isso por nós mesmos, por que queremos, ou não. Nossa vida pode ter sido escolhida por nós de maneira consciente, ou não. Podemos fazer coisas que gostamos muito, mas sentir mesmo assim um senso de obrigação, que nos remove o prazer de fazê-las. Por quê?
Uma das razões que observo em meu próprio cotidiano é a falta que faz um tempo para a alma. Pra renovar a alma, pra escutar a alma, pra esvaziar a alma. Tempo de parar, de pausar, de não fazer. Ouça uma bela canção e observe quantos espaços há na melodia. Ouça uma música daquelas eletrônicas, de batidas repetitivas. A primeira nos trás serenidade, restauração e a segunda nos perturba, por ser incessante.
É preciso criar lacunas no dia a dia. Momentos, ainda que pequenos momentos onde podemos parar. Pode ser 15 minutos onde você prepara um chá, espera que ele fique pronto, espera esfriar e bebe com consciência. Pode ser um simples deitar-se no chão da sala, sentindo as dores do corpo e aos poucos, as dores da alma. Pode ser uma volta no quarteirão no final do expediente, atento ao céu e não ao cel.
Pode ser de muitas formas, pode ser sem forma. O importante é que esses momentos nos informam, nos revelam a nós mesmos, nos aproximam daquilo que é mais importante e que mantém o sentido disso tudo que fazemos. Se paramos de sentir o que sentimos, tudo a nossa volta corre o risco de fracassar, de perder a graça e a beleza e cairmos assim num lugar comum, numa vida vazia, de gestos automáticos.
A alma, precisa de pouco. A alma precisa de olhos, ouvidos, tato, gosto, olfato: sentidos. A alma precisa de espaço para vir a ser. A alma precisa de você.
Cláudia Casavecchia
Episódio do PodCast "A melodia do cotidiano".
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