O brincar é a principal ocupação da criança e através dele, buscamos desenvolver as habilidades necessárias para o cumprimento das demais funções, levando em consideração as preferências, suas necessidades, bem como as necessidades dos pais, a fim de promover uma adaptação saudável e significativa dessa criança com seu meio. De acordo com os mais diversos autores, podemos definir o brincar em três dimensões:
ATITUDE LÚDICA
1. Motivação intrínseca: quando uma criança brinca, está intrinsecamente motivada e nesse momento, está livre das expectativas dos pais ou de recompensas externas. É no brincar que a criança se sente livre para construir sua realidade e nesse processo, também se constrói enquanto sujeito no mundo. Quando brinca, realiza essa atividade porque quer e porque isso lhe trás satisfação.
2. Meios: o brincar é espontâneo e está focado no processo e não no resultado final. Isso diferencia o brincar, da realização de trabalhos.
3. Ao brincar, a criança se centra em si mesma e não no objeto. O objeto que se torna motivo de exploração é um meio, para que ela se sinta sujeito de sua própria vontade, direcionando sua curiosidade, para onde deseja.
4. O brincar confere ausência de imposições. Nesse sentido, ainda que tenhamos um objetivo sensorial ou comportamental, enquanto terapeutas, nossa atitude deverá ser de receptividade, direcionando a criança com respeito àquilo que pretendemos desenvolver. Esse trabalho, exige por parte do terapeuta, criatividade e capacidades relacionais.
5. No brincar, a criança está ativa. É nesse protagonismo, fomentado pela capacidade criativa, que lhe permite desenvolver suas habilidades intrínsecas, bem como as habilidades que pedem aperfeiçoamento.
COMPORTAMENTO OBSERVÁVEL
Diversos autores desenvolveram formas diferentes de classificar o brincar. Por exemplo, brincar observador, brincar paralelo, brincar associativo, cooperativo, entre outros. Tais definições são úteis no sentido de facilitar a descrição e o estudo da atividade executada pela criança. Todavia, se ao focarmos na observação literal, podemos nos distanciar da experiência da criança. Uma atividade que se torna brincadeira para uma pessoa, pode não ser experimentada da mesma forma, por outra. Portanto, é preciso proporcionar, a essência do brincar.
O BRINCAR: CONTEXTO E DIREÇÃO
Para Bundy (1993), é preciso analisar as condições do brincar: segurança do meio, disponibilidade de objetos, liberdade de escolha e pistas culturais, que apontam para a criança o que é aceitável ou não, no brincar. As condições da criança, precisam ser da mesma maneira, observadas: fome, estresse, cansaço. Assim, “o brincar pode ser definido como uma transação, que envolve o indivíduo, o ambiente e o processo concreto do brincar”.
Por isso, nas sessões de terapia ocupacional com uma criança de desenvolvimento típico ou não, o brincar é a atividade que sustenta nossa intervenção. Isso se dá, principalmente através da compreensão da (o) TO sobre as diversas teorias do desenvolvimento infantil, dos processos lúdicos que interferem nesse desenvolvimento, bem com acerca das concepções atuais em neurociências e nas demais ciências que pautam o desenvolvimento humano, como a neurobiologia interpessoal, de Daniel Siegel.
Cabe lembrar, que a criatividade e a imaginação daquele ser humano, que se faz profissional... são imprescindíveis. Além, de aprender a se relacionar com uma criança. Tornar-se aberto e receptivo a ela, para entender suas necessidades e escolhas.
Brincando, nos colocamos como sujeitos que atuam, recebem e direcionam. Brincamos livremente, não impomos direções. Mas estamos atentas, (os) ao movimento daquela criança que nos mostra o tempo todo, o que quer, o que precisa, o que dispõe e o que lhe dificulta o agir.
Cláudia Casavecchia
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