top of page
Buscar

Fragmentos do desamparo: cartas ao meu corpo

Foto do escritor: Cláudia CasavecchiaCláudia Casavecchia

Atualizado: 19 de fev.

Hoje mais uma vez consegui te enxergar. Apresentou-se a mim em forma de dor profunda. Dor de fome, fome de intimidade e de conexão. Mostrou-se para mim uma nova perspectiva desse buraco profundo, desse vazio, dessa ausência, do quanto essa falta de presença fez de mim ausente de mim mesma, procurando sempre uma testemunha, um espelho para que eu pudesse me encontrar.


Descobri também a dor de estar perdida, num lugar escuro, fragmentado, embolorado e desconhecido, como um labirinto dentro de mim mesma. Além de sentir medo, pavor e desespero, sentia que somente a presença luminosa de alguém poderia me desvenciliar desse caos interno.


Mas hoje descobri um tesouro, luminoso, dourado, consistente que me alimenta, que apazigua, me conforta e ilumina meu caminho. Meu corpo. Meu continente. Não estou mais sozinha. Tenho a mim mesma. Posso falar comigo, posso me ouvir, posso entender o que preciso, posso me sentir. Posso aprender a decifrar cada medo ou desejo escondido em cada musculo que trabalha ou dorme, em cada fluxo de sangue que flui ou que jorra, que estagna ou que me impulsiona. Sim, tudo o que eu preciso está bem aqui ao meu alcance.


Eu preciso resgatar a confiança que esse aparelho fantástico pode me inspirar. Resgatar meu corpo é resgatar todo o meu ser. Desconectar do meu corpo, é ser como uma imagem refletida na tela do cinema, ou quem sabe, do Instagram.


É viver de aparência, se nutrindo do reconhecimento do outro e não de você. Para encobrir as defasagens que aprendi a encontrar em mim, fiz de mim outro e com ele me relaciono enquanto me esqueço de você, te traio. Finjo, mas rarefeito, apareço e me embriago de um licor amargo, porque preenchido de mim mesmo, existo e não mais procuro fora o que se faz sentir, dentro de mim.  


Cláudia Casavecchia

Cartas ao meu corpo: fragmentos do desamparo. (2020)

 
 
 

Posts recentes

Ver tudo

Ártemis, a mulher selvagem

Jean Shinoda Bolen, em sua abordagem Junguiana dos arquétipos femininos, descreve Ártemis como um símbolo da independência, da liberdade...

O Guerreiro

O arquétipo do Guerreiro, na psicologia analítica de Carl Jung, representa a energia psíquica relacionada à ação, à coragem e à força de...

Commentaires


Post: Blog2_Post

Cláudia Casavecchia

(11) 9.9817-8080

Formulário de Inscrição

Obrigado pelo envio!

  • Twitter
  • LinkedIn

©2021 por Dialeticamente. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page