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Corpo e Consciência

Foto do escritor: Cláudia CasavecchiaCláudia Casavecchia

Atualizado: 10 de jan.

Na construção da sociedade ocidental, desde a Grécia Antiga à contemporaneidade, diversas foram as concepções atribuídas ao corpo, motivadas pelas questões político-econômicas, culturais e religiosas, vigentes na época. Compreender tais concepções representa a base para o entendimento dos modelos em saúde desenvolvidos e aplicados até os dias de hoje, já que a prática clínica é determinada pela visão que se tem do indivíduo e das dimensões que o compõem.


Segundo Damásio (2004) na sociedade contemporânea prevalece o paradigma cartesiano, que defende a separação abissal entre o corpo e a mente e partindo desse pressuposto, surge o modelo biomédico. Leme (2012) aponta que a clínica médica é aplicada em duas perspectivas: a patogênica, cujo enfoque é o tratamento das doenças e a salutogênica, que focaliza a promoção da saúde, visto que o tratamento da maioria das doenças consiste em corrigir algo que poderia ter sido evitado.


Para Leme, a perspectiva salutogênica é pautada na concepção holística do homem, ou seja, em seus aspectos biopsicossociais e prioriza práticas que atendam as demandas integrais do sujeito, que nesse viés ocupa um local de agente da própria saúde, sabendo-se responsável por desencadear ações em seu organismo. Tal modelo contrapõe a visão biomédica clássica que direciona suas intervenções ao aspecto biológico do sujeito, desconsiderando as determinantes sociais que afetam os componentes orgânicos do homem.


Dentre as determinantes, destacam-se neste estudo as condições de trabalho do indivíduo, defendidas por Dejours (1987), como as causas responsáveis pelas consequências saudáveis ou desfavoráveis para a psique dos trabalhadores. Segundo Almeida (2012), as políticas de saúde no viés trabalhista, também estão pautadas nos aspectos patogênicos e salientam campanhas preventivas e normativas do comportamento da população, visando evitar as doenças e reduzir o risco de acidentes, sem, com isso, promover ações de autonomia e engajamento político-social.


De tais medidas, destacam-se as atividades físicas, citadas numa formulação da OMS de 2004, enquanto fator imprescindível para evitar morbidades e mortes, já que estudos da Organização apontam que cerca de dois milhões de mortes, atualmente ao redor do mundo, são geradas pela inatividade física. Contudo, a atividade física, que é defendida por Carvalho (2006) enquanto um ato mecânico que permite gastar a energia suficiente para prevenir ou remediar as doenças, ainda enfatiza o aspecto do adoecimento e da normatização dos atos comuns, enquanto as abordagens corporais ou práticas corporais que não tem ênfase no aspecto biomecânico remetem à descoberta e à consciência do corpo, privilegiando a dimensão educativa e subjetiva do homem.


Contrapondo a atividade biomecânica, pautada no pensamento cartesiano, Rocha (2009, p.26) salienta que “a consciência só se revela a partir do corpo e de seu movimento” e discorre sobre o pensamento de Maurice Merleau-Ponty que parte de uma concepção fenomenológica do corpo, onde não existe percepção sem significado, concebendo assim, uma compreensão dialética do sujeito com o mundo. Na visão dualista, a consciência sempre foi apresentada num lugar de oposição ao corpo e na visão Pontyana a realidade corporal e a consciência se complementam.


Para Guattari (1986), a subjetividade humana é configurada pela chamada “ordem capitalística” que fabrica a relação do homem com o mundo, configurando os modos de ação do sujeito, sendo a subjetividade individual o resultado de determinações coletivas que se imprimem no corpo. Foucault (1979) aponta o corpo enquanto local adequado para a instalação do poder social, de forma que hierarquias complexas de poder são aplicadas e reproduzidas, sendo executadas simplesmente por meio dos hábitos corporais padronizados. Assim, ideologias de dominação podem ser cultivadas por meio de normas somáticas sociais que na forma de hábitos corporais, passam despercebidos sem qualquer questionamento crítico.


Nesse sentido, a utilização de ferramentas que possibilitam ao indivíduo a consciência corporal, permitem ao homem adentrar num âmbito mais profundo e subjetivo, proporcionando o reconhecimento dos significados que norteiam as percepções acerca de si mesmo, do outro e dos fatores que compõem a sua existência, situando o homem enquanto um corpo permeado pelo mundo, um ser total movido por intenções, onde o corpo é sempre o meio, no qual e por meio do qual se desdobra o processo da existência.


Cláudia Casavecchia






 
 
 

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